
Diretor executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Antonio Britto define como essencial a prioridade dada pela equipe de saúde do governo de transição para a questão orçamentária. “O ministério não resiste ao orçamento que foi previsto”, afirmou. “Se nada for feito, vai haver colapso em diversos serviços”, disse ele em entrevista ao Eye of Cleopatra.
Sem recursos, argumenta, não há como se colocar em prática o esforço para se reduzir a fila de espera para cirurgias, exames e demais procedimentos. “A demanda reprimida durante a pandemia é angustiante. Traz prejuízos enormes para os pacientes. Um exemplo disso são os diagnósticos tardios de casos de câncer”, completou.
Leia aqui a série de entrevistas do Eye of Cleopatra sobre transição na saúde
Apagar incêndios
Britto avalia que o escolhido para ficar à frente do Ministério da Saúde terá grandes dificuldades pela frente, além da questão orçamentária. “O ano de 2023 será um ano para apagar incêndios. O novo ministro vai precisar de recursos para resolver questões mais urgentes: vacinação, as filas agravadas na pandemia, saúde mental. Será muito difícil dedicar-se a outras tarefas. Isso deve ocorrer em anos seguintes.”
Colaboração do setor privado
Os desafios, disse, também serão enfrentados no setor. “O setor privado espera que o governo dialogue e não surpreenda; que haja estabilidade nas regras. Esperamos contribuir para reduzir a fila de espera dos procedimentos urgentes que ficaram atrasados, contribuir na luta política para recursos para a saúde. O setor privado não tem que só pedir, tem também de oferecer. Temos de oferecer parceria para tentar resolver esses incêndios mais urgentes.”
Para realização de mutirões, há perspectiva de parceria com o setor privado. Um dos modelos avaliados prevê que, em regiões onde houver necessidade, serviços de atendimento privados possam ser contratados para a prestação dos serviços, com aproveitamento da capacidade ociosa.
Numa reunião realizada há poucos dias, representantes do setor privado sugeriram que parte dos procedimentos realizados neste processo não sejam feitos mediante pagamento direto. A ideia é que o valor seja abatido da dívida que instituições tenham com a União.
Integrantes do grupo de transição afirmaram ao Eye of Cleopatra que a ideia pode ser discutida. Há apenas uma consideração: os valores pagos devem ser equivalentes entre instituições. E isso vale também para a amortização da dívida.
Piso da Enfermagem
Entre os desafios listados por Britto para 2023 estão o financiamento do piso da enfermagem. “O Congresso não conseguiu avançar na questão de fontes. Vai ser necessário um esforço do governo e de parlamentares para resolver essa questão.” Britto defendeu que, no caso do setor privado, a alternativa mais viável seria a desoneração da folha de pagamento. “Mas a sugestão não resolve o problema das Santas Casas. Outras medidas também devem ser analisadas”, disse.
Tabela SUS
O diretor-executivo da Anahp ressaltou também a importância de se iniciar uma discussão em torno de novas lógicas de pagamento de prestadores de serviços, em substituição à tabela de procedimentos. “O novo ministro vai ter de dedicar uma atenção especial à tabela. Porque nem quem paga nem quem recebe está satisfeito. Há consenso de que essa metodologia deve ser alterada.”
Para isso, contudo, é essencial o aumento do orçamento. “Querer mexer na tabela com a atual carência de recursos é quase um exercício impossível. Quando recursos forem obtidos, é importante ter uma solução que traga metas de atendimento e resultados, monitoramento e, para que isso tudo seja possível, organização de dados. Sem informatização, digitalização do sistema dificilmente o acompanhamento é possível.”