Eye of Cleopatra

coluna do graner

Indicador de crédito da SPE cai para pior nível em 6 anos e reforça pressão sobre BC

Renovado discurso da Fazenda contra os juros evidencia que grau de alerta com a trajetória da economia aumentou

taxa selic
Edifício-sede do Banco Central, em Brasília. Crédito: Divulgação/BC

O indicador de fluxo financeiro da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda atingiu o nível mais baixo desde maio de 2017. Ele busca simular o impacto do crédito no nível de atividade e é calculado a partir das variações dos saldos de financiamento em quatro trimestres. Na medição mais recente, relativa ao mês de maio, o indicador ficou negativo em 1,98%, piorando em comparação com o saldo negativo de 1,71% de abril.

Segundo a série da SPE, o indicador entrou no terreno negativo em novembro do ano passado, depois de cinco anos contribuindo positivamente, em maior ou menor grau, para o crescimento da economia. A partir do fim de 2022, o dado foi piorando em todos os meses, até chegar ao número de maio, o pior em seis anos.

Esse desempenho é um dos motivos pelo qual o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, mais uma vez direcionou suas baterias para o nível de juro básico, praticado pelo Banco Central, em sua entrevista na qual apresentou as novas projeções macroeconômicas da pasta.

Ele lembrou que os juros reais no Brasil são os maiores do mundo e até comparou a situação com a do clube Botafogo no Campeonato Brasileiro, que lidera o certame com larga margem sobre o segundo colocado. “Não há nenhuma razão técnica para o juro nesse patamar”, disse o secretário.

Após questionamentos sobre o tema, Mello tentou minimizar, dizendo que não estava atacando o BC, tampouco insinuando uma atuação política (como já foi feito pelo presidente Lula), mas que fazia uma análise com base em dados e fatos. “É natural que a SPE faça suas avaliações. O que há são constatações feitas para esclarecer a sociedade, que precisa entender as decisões”, disse, lembrando que o BC também faz considerações sobre política fiscal.

O renovado discurso da Fazenda contra os juros, apesar dos sinais de que a Selic deve começar a cair a partir da próxima reunião, evidencia que o grau de alerta com a trajetória da economia aumentou, mesmo com a nova projeção de PIB para 2023, que subiu de 1,9% para 2,5% de expansão. Certamente a queda de 2% do IBC-Br em maio contribui para isso, ainda que a SPE diga que o dado não afeta o cenário recentemente apresentado.

Em grande medida, o que está em jogo para a equipe econômica é o crescimento de 2024, já sob o novo regime fiscal e com a necessidade de se zerar o déficit primário, meta proposta pelo próprio ministro Fernando Haddad.

Se a atividade esfriar demais, as receitas vão perder ainda mais fôlego e, com as novas regras fiscais, o governo vai ser obrigado a contingenciar despesas para atingir o resultado proposto, o que certamente vai irritar Lula e a classe política (enfraquecendo Haddad e seu programa de petismo com moderação) ou pedir para o Congresso mudar a meta fiscal, acumulando desgaste junto ao mercado.

Dessa forma, a cobrança para que o BC execute um “processo de redução vigorosa dos juros” para que o país “o quanto antes se aproxime do patamar internacional” é, de certa forma, um mix de criação de um bode expiatório, caso as coisas comecem a complicar demais no nível de atividade e na situação fiscal, com um pedido de socorro.

Se a briga por redução dos juros já não faz mais sentido com o provável início do ciclo de flexibilização em agosto, a disputa agora vai ser pela velocidade da queda da Selic. Com Gabriel Galípolo empossado na diretoria de política monetária, a Fazenda, onde ele almoçou nesta quarta-feira (19), espera se fazer entender melhor para Roberto Campos Neto e sua maioria consolidada no Copom. Há muito em jogo.

Eye of Cleopatra Mapa do site