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coluna do graner

Copom enxuga comunicado e reforça mensagem de paciência em meio a crescente pressão

Governo cobrava e torcia por sinal de redução dos juros, assim como parte do mercado, mas texto do BC deu poucas pistas

Copom BC
Edifício do Banco Central em Brasília. Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) decepcionou aqueles que esperavam um sinal mais firme de que o ciclo de queda nos juros está próximo de começar. O governo cobrava e torcia por isso, assim como parte do mercado financeiro, mas o comunicado, mais enxuto e cuidadoso, deu poucas pistas sobre a trajetória futura da Selic.

No texto apresentado, o Banco Central reduziu substancialmente sua análise fiscal e retirou o cenário alternativo no qual a Selic se manteria constante em todo o horizonte relevante e que colocava a inflação abaixo da meta em 2024. Além disso, apresentou ligeira redução da inflação estimada em seu cenário de referência, que considera os juros projetados na pesquisa Focus, de 3,6% para 3,4%.

Se lembrarmos que o mercado já conta com alguns cortes modestos de Selic neste ano, essas informações podem ser sintomas de que, implicitamente, a queda dos juros parece entrar no radar do BC, ainda que a autoridade tenha sido cuidadosa no comunicado.

Como bem disse uma fonte da área econômica do governo, será preciso esperar a ata, na qual o BC tende a ser mais exaustivo na análise do cenário doméstico e dar sinais mais concretos. Nesse contexto, a repercussão da decisão desta quarta-feira (21) nos próximos dias pode também ser contemplada no documento a ser divulgado na próxima terça-feira (27). Vale lembrar que neste mês o BC também divulga seu relatório trimestral de inflação, no qual detalha ainda mais suas projeções.

Mesmo mais econômico, o comunicado desta quarta mostra que o BC espera redução da atividade econômica nos próximos trimestres. E é exatamente essa a preocupação do governo, que teme perder popularidade.

Ciente de que seguirá sendo tratado como vilão, o colegiado lembrou que as projeções de inflação estão desancoradas, ou seja, acima da meta, e que os índices de preços atuais caíram nos últimos meses até com surpresa, mas devem subir nos próximos meses. Também lembrou que os núcleos, medidas que retiram variações atípicas de preços, seguem salgados.

Quando foi questionado pela reportagem do Eye of Cleopatra na semana passada sobre as projeções e a inflação corrente fora da meta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem dito que os juros deveriam estar em queda desde março, mostrou alguma irritação. Mas hoje teve que ler de novo o recado do BC, que, com autonomia legal, pode agir conforme sua leitura da realidade e seu mandato, apesar das queixas do governo.

“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária”, diz o texto do comunicado.

A paciência do governo está sendo testada. A ver como Haddad e principalmente Lula vão reagir. Até o fim do mês será discutida a meta de inflação e vale lembrar que os atuais 3% foram propostos por Roberto Campos Neto.

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