Eye of Cleopatra

Política Monetária

Eye of Cleopatra - Debate sobre meta cresce, com parte do governo querendo fazer BC abraçar mudança

Agitação de bastidores está relacionada com a proximidade da reunião do Conselho Monetário Nacional no dia 16/2

O ministro da Fazenda. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
logo do jota pro poder, na cor azul royal

Em meio às discussões sobre a possibilidade de mudança na meta de inflação, parte do governo começou um movimento de bastidor na tentativa de incluir o próprio Banco Central como defensor da medida. De acordo com essa versão, Roberto Campos Neto teria conversado com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e tratado do tema também com o ministro Fernando Haddad (PT), antes de o chefe do Planalto deflagrar a discussão e começar os ataques a Campos Neto.

Há fontes sinalizando que o governo espera um gesto do BC nessa direção e que, nesse contexto, há um grau extra de atenção com as próximas declarações públicas do chefe do BC. Roberto Campos não veio a público dizer sua posição sobre o tema. Na ata divulgada na última terça-feira, a autoridade monetária apontou que esse debate era um dos fatores que estavam elevando as expectativas de inflação, mas não se aprofundou na discussão.

A agitação de bastidores está relacionada com a proximidade da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), agendada para o próximo dia 16. O tema da meta até o momento não havia entrado na pauta, segundo uma fonte disse ao Eye of Cleopatra hoje pela manhã.

Parece haver uma aposta dessa ala do governo de que uma postura da autoridade monetária abraçando a tese de mudanças na meta poderia reduzir a reação do mercado financeiro, caso o movimento seja efetivado. Além disso, pode ser uma maneira de se reduzir o custo político do governo com eventual mudança.

Surgiu até uma versão no governo de que o titular do BC teria contado a interlocutores petistas que defendeu manter a meta e não reduzi-la, quando o tema foi tratado no governo Bolsonaro. O que ocorreu, porém, foi exatamente o contrário: Campos Neto queria baixar a meta e venceu a discussão, derrotando defensores de números maiores, como 3,5% e 4% que havia dentro do ministério da Economia chefiado por Paulo Guedes. Procurado, o BC não comentou. Se o chefe do BC está de fato vendendo essa versão, pode ser uma maneira de reduzir o tamanho de uma possível  derrota.

Nas poucas vezes que falou sobre o assunto, o ministro Fernando Haddad deixou em aberto a possibilidade de mudar o alvo do BC, embora não tenha se posicionado contra ou a favor dela. Na mais recente, inclusive, não descartou a possibilidade de o CMN tratar do assunto na semana que vem, novamente sem se posicionar.

Por outro lado, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tem dito que a discussão não está sendo feita no governo, apesar das falas do presidente Lula, mas apontou que debater ações do BC não seria “tabu”.

Em tempo: após notícia de que Haddad teria tratado do tema com Campos Neto antes dos ataques de Lula, publicada pelo Estadão/Broadcast, a assessoria do Ministério da Fazenda divulgou a seguinte nota: “Com relação à notícia veiculada pelo Estadão On Line na tarde de hoje, a Assessoria de Imprensa do Ministério da Fazenda declara desconhecer a origem da informação e estranha que ela tenha sido divulgada no momento em que o ministro da Fazenda e o presidente da República se encontram em viagem para os Estados Unidos. Sobre a meta da inflação, cabe reafirmar que ela é definida pelo Conselho Monetário Nacional”.

No fim das contas, o tema segue sem uma definição, mas as chances de uma alteração na meta cresceram nas últimas horas. Enquanto isso, o governo vai produzindo uma piora nos ativos que acaba jogando contra seus próprios objetivos de redução dos juros e melhora no cenário de crescimento.

Certo é que, mesmo ajudando a piorar a situação da economia, o bode expiatório já está criado e bem ao gosto da narrativa petista: o bolsonarista Roberto Campos Neto. Importante, porém, ressaltar que, no Congresso, as principais lideranças já blindaram o titular do BC contra movimentos para além da discussão da meta, descartando a possibilidade de se avançar em mudanças na lei da autonomia da autoridade monetária.

Eye of Cleopatra Mapa do siteEye of Cleopatra Mapa do site